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Estudo comprova efeitos nocivos da poluição derivada das queimadas à saúde humana.
Destaque
Estudo comprova efeitos nocivos da poluição derivada das queimadas à saúde humana.
17/03/2009 15:46:07
por Coordenadoria de Comunicação Social

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso( Unemat) juntamente com importantes centros de pesquisa do país comprova associação dos efeitos das queimadas á saúde humana. De acordo com a  pesquisadora Eliane Ignotti, da  Unemat, a população mato-grossense sofre todos os anos com a fumaça das queimadas durante o período de seca , não sendo novidade a qualquer cidadão que nessa época do ano a saúde principalmente de crianças e idosos sofre com a má qualidade do ar. No entanto, conhecer os efeitos da poluição atmosférica dependia de um estudo com metodologia apropriada. 

 A pesquisadora afirma que somente agora  é possível afirmar categoricamente que as queimadas causam prejuízos à saúde, reduzindo a capacidade pulmonar e aumentando o número de consultas ambulatoriais e de internações hospitalares por doenças respiratórias. O estudo teve inicio em 2006 e contou com  a participação  também dos professores da Unemat  Íleo Fealho de Carvalho, Rivanildo Dallacort, Dionei José da Silva, Antônia Maria Rosa, Beatriz Fátima Oliveria,  num trabalho interinstitucional com os importantes centros de pesquisa como  INPE, UERJ, e Fundação Ecológica Cristalino. O trabalho foi coordenado pela Dr. Sandra Hacon da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, atuando em conjunto com a rede Milênio/LBA coordenada pelo professor Paulo Artaxo Netto do Instituto de Física da USP.

Coleta de dados
    

Foram monitorados poluentes atmosféricos, especialmente o material particulado fino (PM2,5) e Ozônio. Além dos dados monitorados, foram também utilizados dados estimados por modelos matemáticos de PM2,5  para os anos de 2004 e 2005 período anterior a 2006, mas analisado na pesquisa. PM2,5 é constituído por partículas menores que 2,5 micrômetros (milésima parte do milímetro) capazes de penetrar profundamente nos pulmões, e representam cerca de 60% das emissões das queimadas.
De acordo com a pesquisadora, estas partículas são muito leves e em razão do calor e da direção dos ventos são deslocadas para longas distâncias. A exposição humana as queimadas não necessariamente ocorre no local onde o foco da queima esta presente, normalmente afastada da área urbana. As altas temperaturas envolvidas na fase de chamas da combustão e a ocorrência de circulações de ar associadas às nuvens favorecem o movimento convectivo ascendente da massa de ar e podem ser responsáveis pela elevação dos poluentes gerados na queima de biomassa até a troposfera, onde podem ser transportados para regiões distantes das fontes emissoras.

Este transporte resulta em uma distribuição espacial de fumaça sobre uma extensa área que vai influenciar a exposição humana através dos produtos de queima de biomassa, da quantidade  de poluentes emitidos, da distancia da população em relação a intensidade da queimada, das condições climáticas da região, da freqüência da queima. Para a pesquisadora, essas são algumas das razões que justificam a necessidade do monitoramento nos locais com maior aglomerado humano.
   

As queimadas na Amazônia ocorrem essencialmente numa área definida como “arco do desmatamento” que vai do Oeste do Maranhão ao Leste e sul do Pará, norte do Tocantins, quase todo o estado de Mato Grosso, Rondônia, Acre e Sul do estado do Amazonas. Os níveis de poluição durante o período de seca, em que os focos de queimadas são mais freqüentes variam de ano para ano, havendo registros de até 600μg/m3 no final da década de 90. Ainda que os níveis de poluentes variem de um município para outro nesta região, sem dúvida estes costumam ser muito mais elevados que em áreas de grandes regiões metropolitanas do Brasil.
   

 Foram definidos como áreas iniciais do estudo os municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra em Mato Grosso. A razão para escolha dessas áreas se dá, de acordo com a pesquisadora, por  Mato Grosso configurar-se como campeão em números de focos de queimadas na Amazônia nos últimos anos e estes municípios apresentarem as maiores taxas de internação e de mortalidade por doenças respiratórias em crianças menores de cinco  anos de idade.
  

 Para Ignotti, estudar efeitos da poluição atmosférica na Amazônia implica em lidar com peculiaridades, como períodos de seca e chuva intensa, dificuldade na obtenção de dados dos poluentes e de dados meteorológicos necessários para as análises; as populações daquela área residem em municípios de pequeno ou médio porte. Ela explica que a agregação dos habitantes de vários municípios nem sempre é adequada, porque os níveis de poluição são distintos de uma localidade para outra.   Esta é uma das razões pela qual ainda não foram verificados os efeitos à mortalidade. No entanto, o grupo de pesquisadores vem trabalhando em estratégias para lidar com esta dificuldade.
     Quanto à legislação vigente, não há distinção pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) quanto ao tamanho da partícula ou considerações a respeito das características da exposição por queima de biomassa na Amazônia. Praticamente durante toda estação seca, nos municípios localizados na área do arco do desmatamento, os níveis de PM2,5 permanecem acima do limite estabelecido como níveis médios diários aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde(OMS) de 35μg/m3, sem distinção entre exposição aguda ou crônica. Por outro lado, durante as chuvas os níveis de poluição atmosférica (PM2,5) não excedem 15 μg/m3 de média diária e a composição do material particulado passa a ser exclusivamente biogênica, ou seja, formada por partículas emitidas pela própria floresta que incluem, grãos de pólen, fungos entre outros elementos. Em outras palavras, a população residente na área do arco do desmatamento tem sido exposta desde o nascimento a níveis elevados de poluição atmosférica, durante cerca de três a quatro meses a cada ano.
Resultados 
    

Os principais resultados da pesquisa mostram redução da capacidade pulmonar de crianças e adolescentes em cerca de até 0,34 litros por minuto de ar expirado para cada aumento de 10 μg/m3 de material particulado fino. O grupo de pesquisa verificou também incremento percentual médio nas internações hospitalares e nas consultas em unidades básicas de saúde por doenças respiratórias de crianças e idosos de até 7% para incrementos de 10 μg/m3 de material particulado fino.
  

 Foram realizados inquéritos de asma em todos os escolares e adolescentes de 6 e 7 anos e 13 a 14 anos de idade do município de Alta Floresta e Tangará da Serra. Verificou-se ainda a prevalência de asma acima da média dos municípios brasileiros entre os escolares 21% em Alta Floresta e 26% em Tangará da Serra. Estes percentuais são também mais elevados do que os verificados em Cuiabá, Manaus e Belém em estudos prévios.      
 

 A pesquisa continua em andamento e tem como principais financiadores o CNPq, a Fundação de Amparo à Pesquisa em Mato Grosso (Fapemat) e o Ministério da Saúde através do Fundo Nacional de Saúde. A pesquisadora destaca que o estudo não teria sido possível sem a importante contribuição de estudantes da Unemat, das Secretarias Municipais de Saúde, de Educação e de Meio Ambiente das localidades envolvidas, assim como das representações estaduais dessas áreas. Ela destaca que a partir dos resultados desta primeira fase tiveram início os estudos voltados também para a questão das mudanças climáticas que implicarão em aumento da temperatura média e redução da umidade relativa do ar dentre outros fatores. Outro interesse do grupo está na análise de outros efeitos, como em doenças cardiovasculares, partos prematuros e absenteísmo escolar.

Outros trabalhos
 

Outra área de pesquisa inserida no contexto do efeito da fumaça para as populações exposta e seu ambiente refere-se a teses de doutorado sobre a avaliação dos potenciais efeitos genotóxicos da queima de biomassa na região de Tangará da Serra através de indicadores proxi de efeitos para a saúde humana. A avaliação integra o estudo do ecossistema através da utilização da planta Tradescantia pallida como um indicador de qualidade ambiental, medidas de material particulado, carbono e ozônio, e seus efeitos na saúde humana.
 

Na saúde

Os efeitos à saúde serão analisados a partir do potencial genotóxico destes poluentes em uma amostra representativa da população adulta do município e, um grupo de escolares representando as crianças e adolescentes com a coleta células esfoliadas de mucosa oral (da parte interna da bochecha).   O teste tem a capacidade de detectar danos no DNA da célula em diferentes estágios de maturação (MCN-Oral). O teste é simples e barato com bons resultados para a pesquisa. A escolha de crianças como grupo crítico em diversos estudos de abordagem genotóxica tem se mostrado uma ferramenta importante, pois estas além de serem mais susceptíveis ao desenvolvimento de agravos oriundos da exposição a agentes tóxicos, também sofrem menor influência de possíveis fatores de confundimento associados à geração de danos ao DNA, como exemplo: tabagismo, alcoolismo, exposição ocupacional e estilo de vida. Esta segunda fase da pesquisa terá inicio no segundo semestre de 2009.
  O grupo de pesquisa está buscando uma agenda de discussão de peculiaridades dos resultados encontrados com gestores e comunidades envolvidas. “Parece claro que os prejuízos decorrentes das queimadas vão muito além da questão meramente ambiental” salienta a Ignotti

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